Especialista detalha operações on-chain de Sam Bankman-Fried para manipular o mercado de criptomoedas

A saga do julgamento de Sam Bankman-Fried (SBF) chegou ao fim em 28 de março quando Lewis Kaplan, juiz do Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York, sentenciou o fundador e ex-CEO da FTX a 25 anos de prisão após um júri tê-lo condenado por sete acusações criminais em novembro do ano passado.

No entanto, detalhes sobre as atividades on-chain da FTX e da Alameda Research compiladas em uma thread publicada no X (antigo Twitter) no mesmo dia do anúncio da sentença pelo diretor de estratégia de produto e operações comerciais da Coinbase, Conor Grogan, mostram que não apenas os clientes e credores da exchange de criptomoedas e do fundo de hedge podem ter sido prejudicados pelos atos de SBF. 

Entidades da indústria como o fundo de hedge Three Arrows Capital (3AC) e a empresa de empréstimos de criptomoedas Celsius, ambas falidas, e uma quantidade incalculável de investidores de varejo também teriam sido vítimas das operações do ex-CEO da FTX.

Manipulação do mercado

Grogan destaca que uma venda maciça de US$ 75 milhões de stETH, um derivativo de staking líquido de ETH, provocou a perda de paridade do par, desencadeando uma corrida bancária que terminaria por resultar na falência da Celsius e do fundo rival da Alameda, o 3AC.

Além disso, dados on-chain levantados por Grogan mostram que operações de wash trading destinadas à valorização do portfólio pessoal de SBF, da FTX e da Alameda eram promovidas de forma recorrente. Especialmente com tokens baseados na Solana (SOL) diretamente vinculados a SBF, como o Serum (SRM) e o Raydium (RAY).

Wash trading é uma forma de manipulação de mercado em que o mesmo operador compra e vende um ativo para criar a impressão de que há demanda real por ele. 

No caso do Raydium, SBF despejou no mercado tokens recebidos quando do início das negociações públicas do RAY que, de acordo com o white paper do projeto, deveriam ficar bloqueados pelo período de um ano. Alguns dias depois, retirou a liquidez do token quando este estava muito próximo de sua máxima histórica, obtendo lucros na casa dos milhões de dólares enquanto o valor do ativo despencava.

Embora as conexões de SBF e sua ascendência sobre o ecossistema da Solana fossem de conhecimento público, outras operações foram mais obscuras. Segundo Grogan, é possível que o ex-CEO da FTX tenha sido um dos principais responsáveis pela máxima histórica do Shiba Inu (SHIB) – a memecoin sensação do mercado de alta de 2021.

No segundo semestre de 2021, SBF montou uma grande posição de SHIB que teria contribuído decisivamente para a apreciação da memecoin. Em 27 de outubro, exatamente na véspera do dia em que o token atingiu a sua máxima histórica, SBF enviou US$ 107 milhões em SHIB para diferentes exchanges de criptomoedas. Algumas horas depois, o preço do SHIB entrou em colapso e jamais se recuperou. Atualmente, o par SHIB/USD é negociado 65% abaixo de sua máxima histórica, de acordo com dados do CoinMarketCap.

Muito provavelmente não por acaso, a operação foi feita quando a FTX tinha acabado de expandir o limite de negociação de futuros perpétuos de SHIB, permitindo que SBF e a Alameda tenham montado posições de venda à descoberto para lucar ainda mais com a memecoin às custas dos investidores de varejo. 

No entanto, os dados expostos por Grogan revelam que a memecoin não foi a única a sofrer com as operações de manipulação do mercado de Bankman-Fried. Embora tenha negado qualquer operação de venda ou short do SUSHI, dados on-chain mostram que SBF despejou 35.000 unidades do token nativo da exchange descentralizada SushiSwap no mercado.

Grogan não poderia deixar de mencionar as operações da FTX e da Alameda com o FTT, token nativo da exchange utilizado como colateral em operações comerciais realizadas por ambas as empresas e que, em última instância, foi responsável pelo colapso do império de FTX no espaço de uma semana em novembro de 2022. 

SBF dedicava-se pessoalmente a divulgar os resultados expressivos do token para garantir que as operações de suas empresas não fossem prejudicadas. Todo o esforço foi por água abaixo quando se soube que as reservas da Alameda eram majoritariamente compostas pelo FTT, e a rival Binance anunciou estar se desfazendo integralmente de suas posições em uma iniciativa de gestão de risco.

NFTs inúteis

Entusiasta dos tokens não fungíveis (NFTs), Sam Bankman-Fried tentou se aproveitar do entusiasmo dos investidores com a ascensão do nicho de colecionáveis digitais. De acordo com Grogan, SBF teria usado dinheiro de clientes da FTX para montar uma coleção pessoal de NFTs de pouca utilidade e baixo valor comercial.

SBF também criou um NFT único, supostamente como um “teste”, que foi vendido por US$ 270.000, em uma possível operação de wash trading, embora Grogan não apresente evidências claras nesse sentido.

Por fim, Grogan mostra que as atividades on-chain da Alameda tornaram-se recorrentes e volumosas somente depois que o então Diretor de Engenharia da FTX, Nishad Singh, promoveu uma alteração no código da exchange de criptomoedas. Realizada após um pedido de SBF, conforme declarado por Singh perante o tribunal, a alteração permitiu que a Alameda tivesse acesso ilimitado aos fundos dos clientes da exchange.

9. [SBF] Não era tão ativo on-chain até o início do crime. Aqui está um gráfico do saldo das carteiras da Alameda (janeiro de 18 a junho de 20). O ponto azul é quando Nishad Singh alterou o código base [plataforma da exchange] para permitir que a Alameda retirasse quantidades ilimitadas de criptomoedas da FTX

— Conor (@jconorgrogan)

A condenação de SBF inspirou a criação de memecoins relacionadas ao ex-executivo. Por ironia, a grande maioria resultou em esquemas de ‘pump and dump’, causando prejuízos significativos aos investidores, conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil.





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