Cofundador da Animoca Brands aponta duas novas tendências para o mercado de alta das criptomoedas

A dinâmica do mercado de criptomoedas é pautada por inovações introduzidas por narrativas emergentes, integrando novos setores ao ecossistema da Web3. No atual mercado de alta das criptomoedas, inteligência artificial (IA), infraestruturas físicas descentralizadas (DePin) e SocialFi ganharam destaque ao propor abordagens descentralizadas a produtos e serviços que possuem uma ampla gama de usuários.

Reconhecido como um dos empreendedores mais bem sucedidos da Web3, o cofundador e presidente executivo do estúdio de desenvolvimento de produtos e fundo de capital de risco Animoca Brands, Yat Siu, já antecipou tendências como o metaverso, os jogos em blockchain, as soluções de camada 2 da Ethereum (ETH), através de investimentos em estágios iniciais de projetos como The Sandbox (SAND), Axie Infinity (AXS) e Polygon (MATIC).

Em uma entrevista ao Cointelegraph Brasil durante o Rio Web Summit, Siu identificou duas tendências emergentes em estágio inicial de desenvolvimento que têm potencial para revolucionar dois setores ainda pouco explorados por startups e desenvolvedores da Web3: a educação e o marketing e a publicidade.

O potencial transformador da tecnologia blockchain para educadores

Siu afirma que a educação é um ativo fundamental para o desenvolvimento pessoal e profissional, lamentando a baixa remuneração de professores. Ao mesmo tempo, vislumbra a transformação de conhecimentos em ativos através da vinculação da propriedade intelectual à tecnologia dos tokens não fungíveis (NFTs):

“Através de NFTs, os professores podem proteger seus direitos de propriedade intelectual, pois haverá modelos econômicos capazes de desbloquear um valor justo de distribuição de receitas como acontece hoje com os produtores de conteúdo. Como um NFT é um ativo de capital, então, você pode basicamente criar valor de longo prazo e escalável sobre propriedade intelectual.”

Siu mencionou dois projetos educacionais da Web3 em estágio inicial de desenvolvimento financiados pela Animoca Brands: o TinyTap e o OpenCampus (EDU). O primeiro promove a criação de estratégias de gamificação de conteúdos educacionais produzidos por professores, e o segundo é uma rede de camada 3 focada no desenvolvimento de aplicações learn-to-earn (aprender para ganhar, em tradução livre).

Para reafirmar o potencial do setor de “EduFi”, Siu lembrou que ao afastar-se do cargo de CEO da Binance, Changpeng Zhao declarou que seu próximo projeto no ecossistema da Web3 seria dedicado à educação.

Airdrops estão reinventando o marketing e a publicidade digital

Siu também expressou entusiasmo com a recente temporada de airdrops de criptomoedas. Não pela distribuição de “dinheiro grátis” que mobiliza os usuários da Web3, mas sim pelo potencial dos airdrops para revolucionar o marketing e a publicidade digital.

Segundo o executivo, o modelo dominante adotado por BigTechs como Meta, Google e Apple não é eficiente para as empresas. Atualmente, é comum que empresas invistam milhões de dólares em estratégias de marketing e publicidade, sem que se possa ter uma real dimensão de sua eficácia, na medida em que não há como saber quais nichos de público foram de fato atingidos, ou mesmo se são realmente capazes de atrair e fidelizar os consumidores.

Por sua vez, os usuários geralmente são bombardeados por anúncios de produtos e serviços que não lhes interessam sem nenhum tipo de contrapartida. Em vez de “jogar dinheiro pelo ralo”, o investimento em airdrops surge como uma alternativa para criar efeito de rede e engajamento real com as marcas, gerando valor tanto para os usuários quanto para as empresas:

“Sempre que você oferece compensações para o usuário, o resultado final é 100 vezes melhor do que pagar dinheiro para a plataforma porque a plataforma não te dá um usuário real. Eu estou empolgado com os airdrops porque eles oferecem um mecanismo justo de como os usuários deveriam ser pagos pelo valor que oferecem à rede. Eu acho que toda a pessoa que posta fotos ou vídeos no Instagram deveria ser paga, deveriam receber alguns tokens pelo tempo dedicado ao produto. A Meta não faz isso, mas faz sentido, não? Esses são os paradigmas do futuro. Como usuário, você vai optar por participar de uma rede social que gera valor para a comunidade.”

A dimensão cultural dos NFTs

O executivo da Animoca Brands rejeita a ideia de que os tokens não fungíveis (NFTs) são uma narrativa ultrapassada, a despeito da queda brutal da capitalização de mercado das principais coleções desde o topo de janeiro de 2022. 

Os volumes mensais de negociação de NFTs totalizam aproximadamente US$ 1,4 bilhão atualmente, uma queda acentuada em relação à máxima de cerca de US$ 6 bilhões em janeiro de 2022, de acordo com dados do CryptoSlam. No entanto, na comparação com os números de um ano atrás (US$ 737 milhões), os NFTs estão em crescimento, argumenta Siu:

“As vendas de NFTs somam aproximadamente US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão por mês. Isso não é tão ruim, certo? A única diferença é que, em 2021, a exposição na mídia era muito maior. Mas mesmo hoje, um [NFT da coleção] Bored Apes ainda vale cerca de US$ 20.000, no mercado, e, portanto, ainda tem seu valor. Penso nesse movimento como um amadurecimento do mercado.”

Novos casos de uso vêm sendo testados e adotados, diz Siu, mas os jogos em blockchain são hoje a principal porta de entrada para o universo dos tokens não fungíveis. Os modelos econômicos dos jogos são construídos em torno de NFTs, e isso é especialmente interessante para aproximar os usuários do conceito de propriedade digital, pois é em torno dele que se formam as comunidades na Web3.

Siu acredita que a dimensão cultural dos NFTs tende a se tornar um elemento central da vida contemporânea à medida que a convergência entre real e digital se aprofunda:

“O papel dos jogos é introduzir os usuários aos direitos de propriedade, e, portanto, também sobre valor, dinheiro e capitalismo. E a última coisa a acrescentar é a cultura. A cultura e a comunidade são os principais motivos pelos quais fazemos coisas de impacto na sociedade, adquirimos nossa reputação perante a sociedade. Nosso status na sociedade é o mais importante. E, basicamente, os NFTs representam isso de uma maneira mais eficaz em ambientes digitais.”

Metaverso não morreu

Desafiando o senso comum mais uma vez, Siu nega o fracasso do metaverso. De acordo com o executivo, o problema é conceitual – e não técnico ou de falta de utilidade. O metaverso não necessariamente precisa estar associado a experiências com realidade virtual (VR) ou aumentada (AR) e, agora, inteligência artificial, diz o executivo. 

Atualmente, a experiência dos usuários com o metaverso começa no celular, em jogos como o Axie Infinity, por exemplo, afirma Siu. “A partir do momento em que você está gerando valor em ambientes digitais, você está no metaverso, pois os pilares do metaverso estão assentados em direitos de propriedade digital, e isso significa que você não faz parte do metaverso de fato até o momento em que você possui ao menos uma parte dele”, conclui.

Além disso, a tentativa de apropriação do termo pelo Facebook ao mudar a sua marca corporativa para Meta também contribuiu para reforçar a sensação de que o metaverso estaria morto:

“Quando o Facebook assume que está construindo o metaverso, quase todo mundo pensa que o metaverso é a Meta. Então, quando a Meta foi mal sucedida com os seus produtos voltados para o metaverso, assumiu-se que o metaverso falhou. Realmente, a narrativa morreu, mas aqueles que fazem parte do ecossistema da Web3 podem ver que há experiências que estão indo muito bem, em especial no que diz respeito aos jogos.”

Futuro do Bitcoin

A visão particular de Siu sobre o metaverso se alinha com a sua perspectiva de longo prazo sobre o Bitcoin (BTC). Para o executivo, o principal atributo da criptomoeda pioneira não é ser um ativo de reserva de valor, mas sim um símbolo de status social:

“Acho que o Bitcoin se tornará um dos símbolos de status digital mais importantes do mundo por causa de sua escassez matemática. Só haverá 21 milhões de Bitcoins. Agora, imagine se houver dois ou três bilhões de pessoas na Web3. Ninguém vai querer negociá-los, porque possuir Bitcoin conferirá às pessoas o maior status que elas poderão almejar.”

Nesse cenário, 1 BTC poderá vir a valer US$ 1 milhão, como o executivo previu durante a sua participação no Rio Web Summit, na terça-feira, 17 de abril.



LEIA MATÉRIA ORIGINAL